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O Papel do Scrum Master

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Entender bem (de verdade) o papel do Scrum Master (SM) é um exercício que para muitos (inclusive eu) demanda alguma ginástica mental.

Como sou um tanto cartesiano, por padrão tudo que parece ser simples (considerando a opinião da maioria) me faz pensar sobre a complexidade que pode estar escondida (as entrelinhas).

Esse meu modo de pensar inclusive acha sombra na definição do Scrum, contida no Scrum Guide:

“O Scrum é simples de entender e extremamente difícil de dominar”

Parece até um paradoxo, não? 🙂

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Aqui quero falar um pouco sobre o Scrum Master, considerando uma visão orientada a resultados e a importância desse papel em times de alta performance.

Visão clássica do Scrum Master

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Existem milhares de fontes com definições sobre o papel do SM (inclusive o próprio Scrum Guide).

Acredito que em ~ 80% das definições existentes temos lacunas (que não vou me arriscar a preenchê-las aqui) sobre o que faz um SM, porque há subjetividade neste papel.




Aqui algumas atribuições do SM que geralmente encontramos na maioria dos materiais que falam sobre isso:

– Líder Servidor
– Autoridade no Processo
– Escudo contra interferências
– Removedor de Impedimentos
– Agente de Mudanças
– Coach

É um bom resumo, eu acho. Mas é um resumo que precisa de reflexão, tem muito nas entrelinhas.

Eu gosto muito de pensar nos resultados que esperamos de um profissional, para a partir disso compreender e definir as atribuições que ele deve ter para alcança-los.

E quais são os resultados esperados como produto do trabalho de um SM?

Visão orientada a resultados para um Scrum Master

Agilidade é outro termo carregado de subjetividade, mas como sou cartesiano eu preciso classificar as coisas de alguma forma para sistematizar meu raciocínio. 🙂

Penso que o fim específico da (minha) ideia de agilidade é:

“Produzir valor continuamente para os clientes de uma empresa tendo como força motriz pessoas felizes e energizadas, que trabalham em ritmo sustentável e ambiente saudável“

Derivando o pensamento acima, podemos dividir o contexto em alguns conjuntos, compreender a finalidade e resultados esperados, e analisar o papel e a importância do SM para a influência nessa realização.

A seguir fiz um paralelo no resultado dessa derivação e associei o SM a cada contexto para ficar mais fácil compreendermos os objetivos e como o SM nos ajuda a chegar lá.




Eficácia

Um time ágil deve entregar valor continuamente e em ciclos curtos, por meio (principalmente) de incrementos de produto que se tornam alavancas de geração de valor na mão de quem as utiliza.

Como exemplos de resultados de valor, podemos citar: redução de custos, aumento de receita, otimização do lucro e retenção de clientes.

Como medir eficácia? KPIs (Key Process Indicators) de Produto, OKRs (Objective and Key Results) para as metas táticas/estratégias.

SM e Eficácia

O Product Owner (PO) deve focar na estratégia e desdobramento tático disso e o SM deve suportá-lo com aconselhamento técnico (ponto de vista de produto), remoção de impedimento organizacional, técnicas de produção de Roadmap e Product Backlog, priorização orientada a valor, complexidade e viabilidade.

O SM deve suportar o Dev Team para garantir que os Devs compreendam bem o problema/oportunidade trazido pelo PO, para que possam pensar na solução mais eficaz levando a atenção do time sempre ao valor a ser produzido com a conclusão bem-sucedida do Sprint.

O SM deve garantir que os KPIs e OKRs fazem sentido e estejam sendo compreendidos e sensibilizados por todo o Scrum Team, fazendo um trabalho de comunicação constante com todas as partes interessadas.

Eficiência

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Um time ágil deve produzir entrega de valor da maneira mais econômica possível, no menor tempo e com a maior qualidade possível.

Como exemplos de melhoria deste processo, podemos citar: eliminação constante de desperdícios (de toda natureza) e diminuição do tempo entre a ideia e a entrega do valor.

Como medir? Lead Time, Cycle Time, Eficiência de Fluxo, % de Desperdício, Throughput.

SM e Eficiência

A razão de um processo existir é a busca pela máxima eficiência. Garantir sua execução com o maior nível de transparência à organização e realizar sempre sua inspeção e adaptação é “ordem do dia” ao SM.

Eficiência é um jogo de eliminar o desperdício. O SM deve ser referência em maximizar o trabalho que não deve ser feito, levando o time a ter foco no objetivo e somente no objetivo.

E não podemos deixar de citar o planejamento. POs estão focados na melhor eficácia, Devs estão focados na melhor solução, então é fatal que não estejam voltados para o melhor planejamento.

Em times com iterações quinzenais, por exemplo, um simples erro de planejamento costuma comprometer todo o Sprint já na largada.




Além do correto planejamento de carga x capacidade, o SM precisa desenvolver no time o senso de “começar e terminar”, definir com todos as melhores DoR (Definition of Ready) e DoD (Definition of Done) e garantir que estejam sendo aplicadas.

E tudo isso orientado a dados. O SM deve ser amigo dos números e, como o responsável pelo processo, deve sempre comunicar as métricas ao time até que todos as compreenda tão bem ou melhor que ele.

Pessoas

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Um time ágil deve ser composto de pessoas entusiasmadas, que produzam a melhor entrega de valor e que se sintam bem fazendo isso, em ambiente seguro e em ritmo sustentável.

Como exemplos de um ambiente com pessoas entusiasmadas, ambiente seguro e ritmo sustentável, podemos citar: profissionais em posições adequadas, com os recursos necessários para desenvolvimento de suas atividades; ambiente onde permite-se (e fomenta-se) a transparência e a maturidade nos relacionamentos; e volume de trabalho planejado aderente à capacidade do time.

Como medir? NPS (Net Promoted Score) para os times, Happiness Door.

SM e Pessoas

No final, tudo é sobre pessoas e nisso está o maior desafio de um SM, pois somos todos diferentes.

Conectar todos em prol de um objetivo único não é fácil, mas é possível.

O SM deve prezar pelo clima do time, trabalhando dia após dia por meio de um comportamento neutro e imparcial (não são palavras redundantes) a elevação da maturidade de todos, fomentando um ambiente de diálogo e transparência.

Ele deve influenciar o time para que todos entendam que é um jogo coletivo e não individual, onde se o time ganha, todos ganham, e se o time perde, todos perdem.

Ainda, como escudo protetor do time, deve frequentemente monitorar a saúde do time e atuar rapidamente quando a tendência sinalizar que existem problemas, tudo por meio de métricas que apontam o nível de satisfação e engajamento, uso da empatia e ações como sessões de One a One.




Cultura

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Eu não acredito que seja possível construir valor e entregas de valor em torno de pessoas energizadas e em ambiente seguro e com ritmo sustentável sem uma cultura que sustente tudo isso.

Porém, pensando de maneira cartesiana (sempre, rs) um dos conceitos mais abstratos é “cultura”, afinal, é algo literalmente imponderável. Mesmo assim, precisamos tentar tangibilizar.

Como exemplo de uma cultura ágil, podemos citar: ambiente onde haja a horizontalidade necessária para o bom debate de ideias em torno dos objetivos, incentivo de todos os stakeholders para os times serem empossados de autonomia e responsabilidade pela produção das entregas e resultados, ambiente favorável à experimentação, respeito às pessoas e às suas diferenças, e foco sempre no diálogo, na ética e na transparência.

Como medir? Se utilizar de todas as métricas de eficácia, eficiência e pessoas, e analisa-las conjuntamente.

SM e Cultura

Em um mundo de tantas incertezas, dentre as poucas certezas cito uma: as coisas vão mudar. Isso é um axioma dos mais fáceis de provar! 🙂

Como Agente de Mudanças um SM deve influenciar a todo momento as pessoas da organização nos valores e princípios ágeis, usando de perseverança e paciência para propagar a mensagem da eficiência, da eficácia e do valor fundamental que as pessoas têm em tudo isso.




Concluindo

Para o papel do Scrum Master não há uma classificação totalmente exata, como uma cartilha, à qual devemos seguir.

Em essência, penso que este post aborda bem o core do papel. Porém, cada empresa dá seu tom de complementaridade.

Em algumas empresas, o SM é mais voltado para resultado, entrega, em outras, para coach, metodologia.

Mas uma coisa é fato: Em tudo que eu estou vivendo aqui, tem ficado claro para mim que o bom Scrum Master realmente (como diz um amigo meu) muda tudo!

E para reforçar o que eu disse no início do post sobre as ambiguidades em torno do Scrum e do Scrum Master, não podemos esquecer que a meta maior de um SM deve ser desenvolver tanto o time a ponto dele próprio, SM, se tornar indispensável!

Grande abraço!